Elza Soares: A Fênix Negra que Cantou até o Fim do Mundo.
- SETRABES 2030

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No âmbito das celebrações do Novembro Negro, promovido pelo Governo de Roraima por meio da SETRABES, hoje voltamos nossos olhares e ouvidos para uma figura que transcende a música. Ela não foi apenas uma cantora, mas uma força da natureza que atravessou nove décadas reescrevendo a história da mulher negra no Brasil. Hoje é dia de celebrar Elza Soares.
Do Planeta Fome para o Mundo
A história de Elza Gomes da Conceição começa muito antes da fama, nos becos da favela de Moça Bonita, no Rio de Janeiro. Nascida em uma família pobre, a menina que carregava latas d'água na cabeça teve a infância roubada cedo, sendo obrigada a se casar ainda criança e tornando-se mãe na adolescência. A fome era uma realidade constante, mas a voz rouca e potente já pedia passagem.
O momento decisivo que apresentou Elza ao Brasil ocorreu em 1953, no programa de calouros de Ary Barroso. Vestida com roupas humildes e emprestadas, ajustadas com alfinetes, ela subiu ao palco e enfrentou o riso da plateia e a ironia do apresentador. Quando Ary perguntou de que planeta ela vinha, a resposta de Elza silenciou o estúdio e ecoou pela eternidade: "Eu venho do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Eu venho do Planeta Fome". Ali, ela não apenas ganhou o prêmio, mas impôs respeito e dignidade à sua existência.
O Amor, a Dor e a Resistência
A vida pessoal de Elza foi marcada por tragédias que derrubariam qualquer pessoa comum. Ela perdeu filhos para a desnutrição e para a violência. Seu relacionamento com o jogador Garrincha, iniciado nos anos 60, colocou-a no centro de um furacão midiático. O Brasil, hipnotizado pelo futebol, muitas vezes escolheu culpar a mulher negra pelo declínio do ídolo nacional, ignorando o alcoolismo dele. Elza foi perseguida, teve a casa metralhada durante a ditadura militar e precisou partir para o exílio na Itália para sobreviver.
Mesmo longe, a voz de Elza continuava a ecoar. Ela transformou a dor em síncope, o sofrimento em samba e jazz. Seu estilo único, com o famoso "scat singing" e a rouquidão característica, fez dela uma referência mundial, sendo eleita pela BBC de Londres como a "Voz do Milênio" em 1999.
A Mulher do Fim do Mundo
Se a carreira de Elza já era notável, sua reinvenção na terceira idade foi revolucionária. Enquanto muitos esperavam que ela repousasse nos louros do passado, Elza lançou em 2015 o álbum "A Mulher do Fim do Mundo". Aos 80 anos, ela se conectou com a vanguarda musical de São Paulo para cantar sobre violência doméstica, racismo, negritude e sexualidade.
A canção "Maria da Vila Matilde" tornou-se um hino de empoderamento, incentivando mulheres a denunciarem agressões com o verso "Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim". Elza provou que a velhice não era o fim, mas um novo palco para a luta política e social. Ela se tornou um ícone para a juventude negra e LGBTQIA+, mostrando que sua pele preta e sua voz eram instrumentos de poder.
Um Legado Eterno
Elza Soares nos deixou fisicamente em janeiro de 2022, curiosamente no mesmo dia que Garrincha havia falecido décadas antes, mas sua presença permanece intacta. Neste Novembro Negro, o Governo de Roraima e a SETRABES relembram sua trajetória não apenas como entretenimento, mas como uma aula de história e resistência.
Elza é a prova viva de que a mulher negra brasileira é a estrutura que sustenta este país, muitas vezes invisibilizada, mas jamais silenciada. Celebrar Elza Soares é celebrar a capacidade de renascer das cinzas, é reconhecer que a carne negra não é a mais barata do mercado, mas sim a mais valiosa, forte e resiliente. Que sua voz continue a nos inspirar a lutar por um Roraima e um Brasil mais justos e igualitários.
Fontes e Referências:
Site Oficial Elza Soares: https://www.google.com/search?q=https://www.elzasoares.com.br
BBC News Brasil - A eleição da Voz do Milênio: https://www.bbc.com/portuguese
Acervo Digital sobre a Ditadura e Artistas Exilados: http://memoriaglobo.globo.com
Biografia "Elza" por Zeca Camargo: https://www.companhiadasletras.com.br





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