Conceição Evaristo: Voz, Memória e Resistência da Literatura Negra Brasileira.
- SETRABES 2030

- 4 de nov.
- 3 min de leitura

O Novembro Negro promovido pela Secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar Social de Roraima celebra trajetórias que inspiram transformação, orgulho, justiça e consciência racial. Entre essas vozes que ecoam ancestralidade, força e futuro está Conceição Evaristo, uma das mais importantes escritoras e intelectuais brasileiras contemporâneas.
Conceição Evaristo representa a coragem de romper barreiras, a sensibilidade de registrar vivências silenciadas e a determinação de transformar experiências de vida em literatura comprometida com a verdade e com a dignidade do povo negro.
Raízes, Infância e Primeiras Lutas
Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, em 29 de novembro de 1946, em uma família numerosa e de origem humilde. Cresceu em um bairro de forte presença da população negra e trabalhadora, onde aprendeu desde cedo o valor da coletividade, da resistência e do estudo como caminhos para a emancipação.
Para estudar e construir novas oportunidades, mudou-se jovem para o Rio de Janeiro. Trabalhou como empregada doméstica enquanto seguia os estudos. A leitura e a escrita já faziam parte de sua vida desde a infância e se tornaram ferramentas fundamentais para narrar o mundo e transformá-lo.
Caminho Acadêmico e Consolidação Literária
Conceição Evaristo conquistou espaço em ambientes acadêmicos tradicionalmente elitizados. Formou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e depois concluiu mestrado em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.
Sua literatura nasce das memórias coletivas, das experiências pessoais e históricas do povo negro e das marcas deixadas por gerações de mulheres negras no Brasil. Esse modo singular de criar narrativa recebeu o nome de escrevivência. A escrevivência retrata vidas reais, dores, afetos, ancestralidade e esperança. É literatura como testemunho, como denúncia e como reafirmação da vida e da identidade.
Obras Essenciais
Sua produção literária é vasta e carregada de sensibilidade e valor histórico. Entre suas principais obras estão:
Ponciá Vicêncio (2003)
Becos da Memória (2006)
Poemas da Recordação e Outros Movimentos (2008)
Olhos d’Água (2014)
Insubmissas Lágrimas de Mulheres (2016)
Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016)
Esses livros abordam temas como desigualdade, violência racial, pobreza, afetos, ancestralidade, identidade e, principalmente, a força das mulheres negras como protagonistas de suas próprias histórias.
Reconhecimento e Impacto Social
Em 2018, Conceição Evaristo recebeu o maior número de votos populares para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Mesmo com o amplo apoio da sociedade, não foi escolhida pela instituição. O episódio abriu debate nacional sobre racismo estrutural, pertencimento e democratização dos espaços intelectuais. Apesar disso, sua influência se expandiu ainda mais dentro e fora do país.
Hoje suas obras são estudadas em universidades brasileiras e internacionais. Suas palavras ocupam salas de aula, rodas de leitura, debates e movimentos sociais. Conceição tornou-se símbolo de resistência, inspiração e afirmação das identidades negras.
Sua frase mais conhecida se tornou lema da luta por vida e dignidade:"Eles combinaram de nos matar. Mas nós combinamos de não morrer."
Homenagem no Novembro Negro da SETRABES
Ao homenagear Conceição Evaristo, reforçamos o compromisso com a valorização da identidade negra, com a promoção da igualdade racial e com o combate a toda forma de racismo. Celebrar Conceição é celebrar a memória, a ancestralidade, o direito à palavra, à dignidade e à representação.
O Novembro Negro da SETRABES reconhece mulheres negras como agentes centrais de transformação social. Conceição Evaristo nos ensina que escrever é existir, é resistir e é ocupar o mundo com voz, coragem e verdade. Sua história ecoa dentro de cada jovem que sonha com oportunidades e dentro de cada mulher negra que constrói caminhos apesar das barreiras impostas pelo racismo.
Que sua escrevivência siga iluminando o Brasil e inspirando novas narrativas, novas consciências e novas possibilidades de futuro.
Fontes e Referências
Biografia da autora no site da Fundação Biblioteca Nacional
Biografia e acervo digital – Itaú Cultural
Dossiê sobre escrevivência – Revista Cult
Obras literárias e entrevistas – Portal Geledés
Perfil da autora – Rede Brasil de Bibliotecas Comunitárias https://rbbcomb.org.br/conceicao-evaristo/
Discurso e entrevistas em eventos literáriosArquivo audiovisual do canal SESC Brasil no YouTube





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