
Fortalecendo a Agenda 2030 em Roraima


Fogo no pavilhão dos países, na Zona Azul — Foto: JACQUELINE LISBOA / AFP
A grande encruzilhada global da COP30 em 20 de novembro de 2025: comércio, combustíveis fósseis e os próximos passos
No dia 20 de novembro de 2025, a cúpula mundial sobre o clima realizada em Belém (Pará, Brasil) atingiu um de seus momentos mais críticos, não por conta do incêndio que interrompeu parte das negociações, mas por dois eixos que ganharam destaque: a tensão entre comércio internacional e ação climática, e o impasse sobre o futuro dos combustíveis fósseis.
Esta reportagem educativa pretende explicar de forma clara o que está em jogo, como o Brasil se posiciona e por que tudo isso importa para países como o nosso, bem como para a agenda global.
Comércio internacional e clima: o novo campo de batalha
A interseção entre comércio internacional e mudança climática nunca foi tão visível como agora.
Um dos focos principais é o mecanismo da Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), sistema da União Europeia que visa aplicar um “preço de carbono” sobre produtos importados de países com padrões mais baixos de descarbonização. Conforme analisado pela Le Monde, essa proposta dominou parte das negociações da COP30 em “como colaborar na descarbonização ao mesmo tempo em que se protegem interesses económicos”.
Países-em-desenvolvimento, como Índia, China e outros, acusam o CBAM de funcionar como instrumento de protecionismo, dizendo que isso viola o princípio de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” da UNFCCC.
Por que isso é relevante para o Brasil e para o Sul global?
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Para exportadores de matérias-primas e produtos de baixo valor agregado, o CBAM pode elevar custos e dificultar acesso aos mercados europeus.
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Para países em desenvolvimento, aparece o dilema: aderir mais cedo à descarbonização ou arriscar perder competitividade.
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Para a agenda climática mundial, amplia-se o foco: não é mais apenas “reduzir emissões”, mas também “como a transição verde se encaixa no comércio, crescimento econômico e justiça internacional”.
O que ficou por trás no dia 20:
Embora o Brasil tenha assumido a presidência da COP30, o debate comercial ganhou importância: a economia e a equidade foram amplamente evocadas como condicionantes da ambição climática.
Em resumo: negociar “decisões climáticas” sem considerar “como isso impacta o comércio e a indústria” tornou-se inviável. A questão agora é: em que medida os mecanismos comerciais vão condicionar ou impulsionar a transição?
Combustíveis fósseis: o muro entre os países
Paralelamente ao tema comércio, outro tema está no centro das atenções: a divisão entre países sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão).
Segundo reportagem da Al Jazeera, as negociações da COP30 estavam “amargamente divididas” em torno de um documento de encerramento que não menciona o termo “combustíveis fósseis” nem apresenta um roteiro claro de saída.
Outra matéria da The Guardian aponta que pelo menos 29 países apoiadores de um “fase-out” de fósseis ameaçaram bloquear o texto final se ele não incluísse o compromisso de transição.
Qual o pano de fundo desse impasse?
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Países produtores e consumidores de fósseis, como China, Índia, Arábia Saudita, Rússia, relutam em se comprometer com um cronograma que possa frear sua economia ou sua influência geopolítica.
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Países vulneráveis ao clima, pequenos estados insulares e economias em desenvolvimento veem na eliminação dos fósseis um passo inevitável para cumprir a meta de aquecimento de 1,5 °C.
Onde o Brasil se encaixa?
The Guardian: O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que levará ao próximo G20 Summit 2025, em Joanesburgo, uma “roadmap” de transição de combustíveis fósseis, apesar da falta de consenso na COP30. -
Entretanto, o rascunho brasileiro-presidência da COP não cita explicitamente “combustíveis fósseis” ou apresenta cronograma definido — o que irritou países que apoiavam um texto mais firme.
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Qual o impacto global disso?
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Se não houver “fase out” ou plano claro, a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C corre risco ainda maior.
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O impasse reduz a confiança da sociedade civil e de investidores na capacidade dos governos de entregar uma transição justa e rápida.
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A diplomacia climática se aprofunda: o que era “somente” meio ambiente agora se torna geopolítica e industrial.
O Brasil, a Amazônia e o “jogo de cena global”
A realização da COP30 em Belém, no coração da Amazônia, dá ao Brasil e à região um palco estratégico. A chamada “COP da Amazônia” coloca sob os holofotes temas como desmatamento, povos indígenas, adaptação ao clima e justiça ambiental.
Nesse contexto, o posicionamento brasileiro, equilibrando interesses de crescimento econômico, soberania dos recursos e responsabilidade global, torna-se central.
Ao mesmo tempo, o país contribui para pressionar o sistema global: ao defender a inclusão de um “roteiro” de combustíveis fósseis, ao insistir que o Sul global não seja penalizado por transições impostas, e ao levantar a questão de que comércio, clima e justiça estão interligados.
Para o Brasil e para a América Latina, isso significa:
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Fortalecer seu papel diplomático no Sul global.
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Garantir que a transição energética inclua recursos, tecnologia e justiça para os países menos favorecidos.
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Aproveitar o evento para mobilizar investimentos em infraestrutura, adaptação climática e cadeias verdes ligadas à Amazônia.
Por que essa fase da COP30 importa para você, para o Brasil e para o planeta
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Para o cidadão brasileiro: as decisões que saírem da COP30 poderão afetar políticas públicas, financiamento de adaptação (educação, saúde, infraestrutura), e oportunidades de novos investimentos em economia verde.
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Para o Brasil como ator global: o país pode alavancar sua posição geográfica, sua biodiversidade e sua presença amazônica para assumir protagonismo climático, ou correr o risco de ficar refém de tensões externas.
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Para o planeta: se o nó comercial e o impasse sobre combustíveis fósseis não forem resolvidos, a meta de 1,5 °C torna-se cada vez mais improvável. As mudanças climáticas então passam a cobrar um preço ainda mais alto, em vidas, em biodiversidade, em infraestrutura, sobretudo dos países vulneráveis.
No fim de 20 de novembro, a COP30 mostra que os grandes desafios não são apenas técnicos são também estruturais. A tensão entre comércio e clima, a divisão sobre os combustíveis fósseis e o papel do Brasil como articulador de uma agenda justa e eficaz evidenciam que o futuro da transição energética será definido tanto em corredores diplomáticos quanto em fábricas, portos e negociações comerciais.
Se a COP30 pretende ser um marco, ela precisa sair dessas encruzilhadas com textos, cronogramas e compromissos que unam economia, justiça e clima, caso contrário, pode se tornar mais um evento simbólico do que transformador.
Fontes
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Audrey Garric & Perrine Mouterde, “COP30 overshadowed by trade tensions: ‘How to collaborate on decarbonization while protecting economic interests’”, Le Monde, 20 nov 2025. link Le Monde.fr
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Fiona Harvey, “COP30 draft text omits mention of fossil fuel phase-out roadmap”, The Guardian, 21 nov 2025. link The Guardian+1
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Jonathan Watts & Fiona Harvey, “Brazilian president will take fossil fuel phase-out plan to G20 summit”, The Guardian, 20 nov 2025. link The Guardian
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“83 Countries Join Call to End Fossil Fuels at COP30”, Earth.Org, 20 nov 2025. link Earth.Org
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“What’s at stake in the COP30 negotiations?”, Global Issues, 20 nov 2025. link globalissues.org
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“UN Climate Change Conference – Belém overview”, IISD ENB, 20 nov 2025. link enb.iisd.org